Como as plataformas sociais estão a responder à crise na Ucrânia

Enquanto a invasão da Rússia na Ucrânia se intensifica, no universo digital acontece um conflito paralelo. Ao contrário de incidentes semelhantes em tempos passados, esta é uma guerra que está a acontecer na era das redes sociais, carregadas de campanhas de desinformação, que podem confundir, distorcer e ocultar o que está realmente a acontecer na Europa do Leste.

Face a esta situação, cabe às plataformas digitais combaterem e limitarem o uso indevido para fins questionáveis, pelo que enumero abaixo algumas das medidas aplicadas até ao momento.

Meta

Com 70 milhões de utilizadores ativos na Rússia e 24 milhões na Ucrânia, o Facebook  é sem dúvida o centro do fluxo de divulgação de mídia social da zona de conflito, alcançando aproximadamente metade do total de cada nação. Na semana passada, Nick Clegg, vice-presidente de assuntos globais da Meta, a empresa detentora das principais redes sociais, como o Facebook, Instagram e WhatsApp, afirmou que a Rússia pediu à empresa para não monitorizar e rotular avisos de desinformação às publicações de mídia afiliada ao estado. Com a recusa do Facebook, o governo russo anunciou que restingiria o acesso à rede social.

Face ao crescimento de conteúdos promovidos por grupos pró-Rússia, por meio de perfis falsos ou contas hackeadas, a Meta assumiu uma postura muito forte e ativa no combate à desinformação, e não querendo repetir os mesmos erros do passado nas acusações de ser uma plataforma muito passiva no combate às “fake news”, aplicou diversas medidas e sanções tais como:

  • Bloqueou os anúncios de mídias estatais russos, bem como a sua monetização, limitando severamente a capacidade das autoridades russas de usar o Facebook ou Instagram como um meio de divulgação.
  • Anunciou que não irá permitir que qualquer anunciante na Rússia crie ou execute anúncios em qualquer parte do mundo.
  • As publicações e stories de mídia controlada pelo governo russo no Facebook e Instagram são ocultadas. Caso essas publicações sejam divulgadas por perfis pessoais, serão igualmente ocultadas.
  • Bloqueou muitas contas falsas na Ucrânia, ou contas pertencentes a meios estatais russos.
  • Criou um centro de operações composto por uma equipa nativa do idioma russo e ucraniano, para bloquear conteúdo nocivo e aplicar novos rótulos e avisos para publicações de desinformação.
  • Adicionou novos recursos de segurança para os utilizadores da Ucrânia limitarem o acesso a informações pessoais e à sua rede de amigos.
  • Disponibilizou mensagens criptografadas no Instagram, através do IG Direct, para utilizadores na Ucrânia e na Rússia.
  • Bloqueou os provedores de mídia estatal russa Russian Times e Sputnik, devido à divulgação de propaganda prejudicial no Reino Unido.
  • Reforçou os seus recursos de Ajuda na Comunidade para que ucranianos e outras pessoas na região possam encontrar informações confiáveis de agências locais da ONU ou sociedades da Cruz Vermelha.
  • Adicionou novos links para recursos de saúde mental, enquanto que também partilha um conjunto de dados relevantes com autoridades e grupos de pesquisa de países que fazem fronteira com a Ucrânia, como dados de mobilidade e fluxo, para auxiliar as atividades de apoio a refugiados.

Google

O Google seguiu a mesma linha da Meta, bloqueando o acesso às suas ferramentas principais de divulgação em território russo, como o Google Ads e o Youtube.

Bloqueou a sua plataforma de anúncios na Rússia, o Google Ads, incluindo anúncios de pesquisa, de Youtube ou da sua rede Display. Além desta proibição, o Google invocou a sua política de “eventos sensíveis”, que proíbe a utilização de marketing para procurar tirar proveito de uma situação sensível e em evolução.

A pedido do governo ucraniano, o Youtube restringiu o acesso aos meios de comunicação estatais russos para usuários da Ucrânia, suspendendo de igual forma a monetização de vários canais russos, conectados e apoiados pelo Estado Russo. Esses canais estão a ser removidos das listas de recomendações, limitando o seu alcance, e retirou milhares de vídeos que violaram as suas políticas. Face a estas restrições, a Rússia exigiu que o acesso aos canais estatais russos sejam restaurados, pelo que o Youtube poderá vir a ser proibido neste país como resposta, da mesma forma como aconteceu ao Facebook.

O Google bloqueou também o download da app do jornal russo Russian Times, bloqueando também as atualizações para quem já tinha instalado o aplicativo.

O Google Maps também desabilitou os seus dados de tráfego para proteger os cidadãos ucranianos. Os dados de tráfego informam o transito e lotação de lojas e outros pontos comerciais.

Twitter

Uma das plataformas que mais politicamente ativa nos últimos anos, o Twitter também cancelou temporariamente todos os anúncios na Ucrânia e Rússia, para garantir que as informações críticas de segurança pública tenham a máxima visibilidade, e de forma a que os anúncios não prejudiquem o acesso a estas informações.

Baniu também os anúncios políticos, incluindo os de mídia afiliada ao estado russo, desde 2019.

Além de verificar os tweets ativamente para detetar a manipulação e distorção da realidade, o Twitter também adicionou alertas a tweets que partilham links de sites afiliados ao estado russo, reduzindo o alcance e removendo- das recomendações. Removeu também cerca de 100 contas que usavam hashtags pró-Rússia sob a sua política coordenada de comportamento inautêntico.

Face a estas proibições, as autoridades russas decretaram o bloqueio ao acesso do Twitter para utilizadores locais. Em resposta, o Twitter implementou o serviço Tor onion, para ajudar os utilizadores russos a manter o uso da plataforma.

TikTok

Uma das plataformas de streaming de vídeos mais popular do momento, o TikTok tem sido invadido por um lado de vários grupos afiliados à Rússia, que usam o aplicativo para espalhar desinformação orquestrada, com milhares de vídeos e transmissões falsas, incentivados pela monetização da plataforma, e por outro lado com a comunicação de usuários ucranianos que reportam a localização de tropas russas.

Sendo uma propriedade da Bytedance, com sede na China, um país que mantém relações próximas à Rússia, o TikTok implementou algumas medidas menos firmes em comparação com as suas plataformas concorrentes. Por exemplo, bloqueou os conteúdos de meios de comunicação afiliados ao estado russo para utilizadores na União Europeia, mas mantém o seu acesso a todos os países fora da UE.

Da mesma forma que o Facebook, Instagram e Twitter, rotulou o conteúdo da mídia aliliada ao estado russo, como parte do seu esforço para lidar com a desinformação.

Recentemente, face à nova lei de “fake news” da Rússia, que ameaça os representantes ou criadores locais de enfrentarem pena de prisão se a plataforma hospedar qualquer conteúdo que o Kremlin considere como desinformação sobre a invasão na Ucrânia, o TikTok não permitirá mais que os usuários russos enviem novos clipes de transmissão ao vivo no aplicativo.

Telegram

Entre as apps de mensagens, o Telegram é o mais utilizado na europa do leste. O aplicativo tem origem russa, o que tem levantado algumas suspeitas. No Twitter, um dos fundadores do Signal, o concorrente do Telegram, explicou como funciona a “cloud” da app e como pode ser uma ameaça russa aos ucranianos. Segundo Moxie Marlinspike, as mensagens não são encriptadas e podem ser lidas pela empresa russa, assim como o conteúdo multimédia.

Por enquanto não existem indicações do Telegram de limitar o acesso a conteúdos devido ao conflito. Pavel Durov, fundador da app, informou que é contra restringir canais.

Reddit

O Reddit é uma rede social que funciona como um fórum anónimo, com páginas chamadas de subreddits, dedicadas a países como comunidades. O  subreddit r/Russia foi colocado em “quarentena” devido a problemas contínuos de desinformação partilhados pelo grupo. Todos os grupos em quarentena não aparecem nas pesquisas e recomendações, enquanto que qualquer utilizador que acessar a uma comunidade em quarentena irá receber um alerta como o que apresentamos abaixo. O Reddit também bloqueou todos os links para meios de comunicação estatais russos, e suas afiliações de língua estrangeira no aplicativo.

Snapchat

O Snapchat interrompeu todos os anúncios ativos na Rússia, Bielorrússia e Ucrânia para facilitar um melhor fluxo de informações na região afetada, enquanto também está pausando as vendas de anúncios para todas as entidades russas e bielorrussas. O Snapchat também não aceita anúncios de entidades estatais russas, nem exibe mídia afiliada ao estado no aplicativo.

Como medida de proteção aos cidadãos ucranianos, o Snapchat desativou o seu “heatmap” do Snap Map na Ucrânia, que mostra quantos snaps foram criados em certos locais.

Quer ajudar?

Enquanto que todos esperamos que o conflito termine, tenha uma resolução pacifica, recordamos que devem ser usados os canais oficiais para ajudar o povo ucraniano e todos aqueles que são diretamente afetados por esta guerra.

Deixamos alguns links importantes:

We Help Ukraine
A plataforma recentemente criada para ajudar os refugiados ucranianos a encontrar apoio a nível mundial.

Link: https://www.wehelpukraine.org/

Portugal For Ukraine
É uma plataforma lançada esta semana pelo Governo Português que junta todas as respostas e ações de apoio a pessoas que saíram da Ucrânia em consequência da situação de guerra.

Link: https://portugalforukraine.gov.pt/

Unicef
A UNICEF é uma ONG das Nações Unidas para a defesa dos direitos das crianças, financiada por donativos voluntários.

Link: https://donativos.unicef.pt/campanha/emergencia-ucrania/

Comitê Internacional da Cruz Vermelha
O CICV trabalha no mundo todo para levar assistência humanitária às pessoas afetadas por conflitos e pela violência armada e para promover as leis que protegem as vítimas da guerra.

Link: https://www.icrc.org/pt/onde-o-cicv-atua/europe-central-asia/ucrania